quinta-feira, 3 de maio de 2012

Seca: um velho problema sem novas soluções

Depois de quase 20 anos, o Ceará volta a enfrentar uma nova seca. De acordo com a FUNCEME (Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos), a chuva de abril foi 70% do que a esperada!

A Seca no Interior do Ceará
Não é novidade que, em anos de seca, o Ceará está no topo da lista dos estados mais atingidos pela falta de água no Brasil. Isso porque praticamente todo o nosso território é parte do Semi-Árido.
Segundo o IBGE (Censo de 2010), 25% da população do estado vive no campo. A maioria, sobrevive da agricultura, da criação de animais e... da ajuda governamental. Essa é a parte da população que mais sofre com a estiagem.
Como há 50 anos, as atividades rurais continuam sendo realizadas com poucas tecnologias, reféns das irregularidades do clima. Irregularidade que, aliás, é a grande característica do Semi-árido! E porque não nos preparamos para ela?
Há mais de 100 anos (1877), uma seca devastadora assolou o Ceará. Fortaleza, na época uma cidade de menos de 100 mil habitantes, foi invadida pelo "flagelo". O fato se repetiu nos anos posteriores. A partir desse momento, a seca - percebida apenas como um problema climático, de ordem natural - era vista a partir de então como um "problema social".
Ao longo dos anos do século XX, foram sendo implantadas várias políticas de "combate à seca", quase todas limitadas à construção de açudes e distribuição de comida e trabalho em épocas do aperreio. E aí está o problema: para que combater à natureza? Essa é uma luta sem lógica. O mais sensato é conviver com a seca.
Ela também tornou-se um problema político. A chamada "indústria da seca" é um reflexo disso (pretexto para aquisição de verbas pelos políticos locais) e, por outro lado, a formação de movimentos populares exigindo trabalho, comida e, algumas vezes, realizando saques a depósitos de alimentos (a maioria do governo).
A partir dos anos 1950, todas as secas passaram a presenciar a formação de grupos - alguns pequenos, outros muito grandes - que exigiam do governo assistência sempre que as condições pioravam em decorrência da falta de chuvas.
Os saques alcançaram um pico nos anos 1980 e 1990 em todo o Nordeste, inclusive aqui em Itapiúna. E então perderam força, principalmente porque uma das principais demandas dos sertanejos foi atendida através do bolsa família, da ampliação da aposentadoria rural e do seguro safra. É preciso dizer que não é o desespero - puro e simples - que levava a pessoas a saquearam, mas sim a indignação e a crença de que a vida e a família são mais importantes que a propriedade particular.
Apesar da melhora, os problema persistem. A miséria absoluta foi quase que varrida das nossas terras, mas a pobreza contínua. E o atraso tecnológico, o desestimulo às atividades rurais ampliam a exclusão dos camponeses.
A seca, outra vez, vem por abaixo o véu que às vezes esconde essa realidade.
Prof. Ruy Gondim
03 de maio de 2012


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Foto inicial: http://www.crato.org/chapadadoararipe/2012/04/30/ceara-lanca-comite-integrado-de-combate-a-seca/

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